23 de ago. de 2009

Um Jardineiro fiel


Era uma tarde de inverno, não estava muito frio, mas o sol tímido que se atrevia a aparecer, mal esquentava.

Alexandre resolveu caminhar um pouco pela cidade envolto em seus pensamentos, em seus problemas e formas de resolvê-los. Era um homem bonito, inteligente, irreverente, atrevido, porém, com um coração enorme. Avistou um banco numa praça bonita, cheia de árvores e pássaros que cantavam e voavam livremente. Pensou por uns instantes na vida daqueles bichinhos. Eles eram felizes e não sabiam. Alexandre olhou ao redor, tudo estava calmo. Num banco mais distante havia um casal apaixonado. Noutro duas amigas conversando. Distraído, nem percebeu que no banco em que escolheu pra se sentar, tinha um homem de meia idade. Ele olhou para Alexandre e iniciou uma conversa:

- Você se sentou bem aqui ao meu lado e não sentiu medo, fico contente.

Alexandre olhou para aquele homem cujo rosto era marcado pelo sofrimento e respondeu:

- Por que eu deveria lhe temer?

- Muitas pessoas me olham e escolhem outro banco pra se sentarem. Acham que sou algum tipo de ladrão.

- Eu sei me defender. Mas o senhor não me parece um homem que represente perigo.

Percebendo a atenção do outro, este começou a contar um pouco de sua história:

- Eu sou um homem trabalhador, fui feliz ao lado de minha esposa e filhos. Infelizmente, um acidente de carro levou embora minha família pra sempre. Fiquei sozinho nesse mundo, não tenho parentes. Como ‘desgraça’ pouca é bobagem, perdi meu emprego. Não consegui mais pagar o aluguel e hoje vivo perambulando por aí em troca da caridade de um ou outro que me dá o que comer. Não pense, moço, que eu gosto dessa situação. Procuro emprego. Mas, olhe pra mim. Com minhas roupas rasgadas, não me dão atenção e já me dispensam.

- Vejo que suas roupas estão velhas e rasgadas, mas o senhor não está sujo, nem cheirando mal.

- Bem, isso é porque tem um pequeno shopping aqui perto. Todos os dias, eu vou ao banheiro e dou um jeito de me manter limpo. Até hoje não impediram minha entrada. Alguns vendedores de lojas me servem um lanche de vez em quando e assim sigo minha triste vida.

Alexandre se esqueceu dos seus próprios problemas ao ouvir aquele homem. E disse:

- O senhor me espere aqui. Volto em breve.

Ele achou estranho, mas não tinha mesmo pra onde ir e ali ficou a esperar.

Mais ou menos meia hora depois, Alexandre apareceu com uma sacola e a entregou ao indivíduo que olhava atônito. Quando ele pegou a sacola e a abriu, viu uma calça, uma camisa e um par de tênis novos. Não conseguindo conter a emoção, nada disse, apenas deixou suas lágrimas banharem seu rosto. Depois de um longo tempo, agradeceu.

Alexandre perguntou o nome daquele pobre homem. Era Deus.

- Sei que parece brincadeira, mas esse é mesmo o meu nome. Eu me chamo Deus.

Alexandre riu e fez uma proposta a Deus, o convidou a cuidar de seu jardim. Trabalhar como jardineiro em troca de um salário, comida e um quartinho no lado de fora da casa, nos fundos. E Deus não acreditava no que estava acontecendo, a sorte estava sorrindo novamente pra ele. Claro que aceitou e jurou não decepcionar aquele bondoso rapaz.

E foi assim, o homem teve uma nova chance de ser respeitado por uma sociedade preconceituosa. Enquanto Alexandre, ao se sentar naquele banco de praça numa tarde de inverno, concentrado em sua vida que não estava muito bem, percebeu que todos têm problemas e que a grande maioria nem imagina que se olhar pra trás, verá pessoas em situações muito pior.

Alexandre sabia que podia confiar em seu jardineiro. Algo dentro de si dava a ele essa certeza. Sabia que sua casa estaria em segurança.

Certa vez, alguns meses depois, olhou pela janela de seu quarto e reparou que o jardim estava mais belo, as flores pareciam ter mais vida. Alexandre ficou um tempo a admirar aquela visão e pensou em voz alta: “Não é todo mundo que tem Deus cuidando do seu jardim”. E sorriu satisfeito.


Autora: Sandra Franzoso

3 comentários:

Joselito disse...

Deus aparece na hora certa, ou não.

Anônimo disse...

Sandra parabéns como sempre trazendo preciosas lições de vida, em ambas situações.. no afortunado,, e no desfavorecido, e você conseguiu ir além.. mostrou um retrato panorâmico bem real, que existe em muitos bancos de praça.. e não vemos.. por estarmos sempre concentrados dentro de nossos esquecendo do bem que podemos fazer, e deixamos de fazer...
Amiga.. te desejo o melhor dos melhores .. paz ..saude .. alegria ... e vida em tua vida..!!
Falbo

Alexandre Gadotti disse...

Obrigado Deus! Por ter dado-me essa oportunidade de entrar aqui e ler isso! Seja meu jardineiro também e muito mais que isso, seja meu professor, meu amigo, meu tudo e minha vida! Ensina-me a buscar o reino dos Céus em primeiro lugar!

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